Arquitetos brasileiros ganham o inédito Prêmio Internacional RIBA
21 de novembro de 2018 |
O escritório brasileiro Aleph Zero, dos arquitetos e urbanistas curitibanos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, venceu o Prêmio Internacional RIBA (Royal Institute of British Architects) 2018 pelo projeto Moradias Infantis, em Formoso do Araguaia (TO), elaborado em parceria com o designer Marcelo Rosenbaum e sua sócia, arquiteta e urbanista Adriana Benguela, que assina o trabalho como responsável técnica . O anúncio ocorreu nesta quarta-feira (20).
O complexo foi escolhido por um grande júri presidido pela renomada arquiteta Elizabeth Diller (DS + R). O Prêmio Internacional RIBA é concedido a cada dois anos para um edifício que exemplifique a excelência do projeto e a ambição arquitetônica, além de proporcionar um impacto social significativo. É um dos prêmios de arquitetura mais rigorosamente julgados do mundo, com todos os edifícios de longa lista visitados por um grupo de especialistas internacionais.
Em maio, Utrabo e Duschenes já tinham ganho o Prêmio Internacional RIBA de Arquitetos Emergentes. Naquela ocasião, foi concedido também o Prêmio RIBA de Excelência Internacional, que selecionou os 20 melhores novos prédios do mundo, que depois gerou uma lista de quatro finalistas, entre eles o agora vencedor do prêmio máximo. Em 12 anos de existência do prêmio internacional, é a primeira vez que brasileiros são laureados. Paulo Mendes da Rocha recebeu em 2017 a RIBA Gold Medal , mas fora do prêmio.
Na opinião do presidente do RIBA, Ben Derbyshire, o projeto Moradias Infantis “oferece um ambiente excepcional projetado para melhorar a vida e o bem-estar das crianças da escola. Ele ilustra o valor imensurável do bom projeto educacional”.
O prédio oferece alojamento para 540 crianças entre os 13 e os 18 anos que frequentam a Escola de Canuanã. Os alunos vêm de áreas remotas do país, alguns viajando muitas horas de barco. Financiado pela Fundação Bradesco, o Moradias Infantis é uma das quarenta escolas administradas pela fundação que oferece educação para crianças em comunidades rurais em todo o Brasil.
Para os autores do projeto, o trabalho mostra como a arquitetura pode ser uma ferramenta de transformação social. Eles trabalharam de perto com as crianças para identificar suas necessidades e desejos para a escola. Eles queriam criar um ambiente que pudesse ser uma casa longe de casa, onde as crianças pudessem desenvolver um forte senso de individualidade e pertencimento.
“Foi uma alegria ver as crianças construindo o prédio e adaptando o espaço para atender às suas necessidades”, disse Utrabo e Duschenes. “Queríamos ser prescritivos sem sermos arrogantes, sermos solidários sem sermos paternalistas e estimular o crescimento e o desenvolvimento sem cobri-lo”.
Cobrindo uma área de quase 25 mil m2, o Moradias Infantis é organizado em dois blocos idênticos: um para meninas e outro para meninos. As residências estão centradas em torno de três pátios amplos, abertos e bem sombreados ao nível do solo, onde a acomodação do dormitório está localizada. No primeiro andar, há espaços comuns flexíveis que vão desde espaços de leitura e salas de televisão até varandas e redes, onde as crianças podem relaxar e brincar.
Para o designer Marcelo Rosenbaum e sua sócia, arquiteta e urbanista Adriana Benguela, “o espaço facilita a interação entre o público e o privado, e a socialização entre o coletivo, a natureza e o indivíduo, reconectando crianças e jovens às suas origens e ao ecossistema circundante”.
O ecossistema em torno do complexo – particularmente o clima tropical, onde as temperaturas chegam a meados dos 40 graus no verão – foi um dos principais desafios inteligentemente abordados pelos arquitetos. O grande telhado, cuja estrutura é composta de vigas e colunas de madeira laminada cruzada, fornece sombreamento. O projeto de dossel suspenso criou um espaço intermediário, entre o interior e o exterior, dando o efeito de uma grande varanda com vista para a paisagem circundante e criando um ambiente confortável sem necessidade de ar condicionado.
Combinando uma estética contemporânea com técnicas tradicionais, o Moradias Infantis foi descrito pelos juízes como “reinventando o vernáculo brasileiro”. O edifício é construído com recursos locais e baseado em técnicas locais. Blocos de terra feitos à mão no local foram usados para construir as paredes e treliças, escolhidos por suas propriedades térmicas, técnicas e estéticas. Além de ser rentável e ambientalmente sustentável, esta abordagem cria um edifício com fortes ligações ao meio envolvente e à comunidade que serve.
Fonte: CAU/BR.
O projeto Moradias Infantis foi destaque na imprensa internacional, sendo noticiado pela CNN Internacional e pelo jornal alemão Der Spiegel (clique nos links para conferir).