Livro conta a história de oito “povoações fantasmas” brasileiras
25 de janeiro de 2017 |
O arquiteto e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Paraná, Nestor Razente, tem dedicado os últimos anos à pesquisa sobre o abandono de aglomerações urbanas no mundo. Em dezembro passado, o professor lançou, pela Editora EDUEL, seu primeiro livro sobre o assunto: “Povoações Abandonadas no Brasil”, obra única sobre a temática.
No Brasil, diz o professor, a temática “povoações abandonadas” não é tratada cientificamente. No restante do mundo, com exceção dos Estados Unidos e Chile, ela ocupa espaço reduzido nos diferentes campos do conhecimento, embora o fenômeno do abandono se apresente em diferentes países, desde os mais pobres até os mais ricos. “Estamos tão preocupados em resolver os problemas das grandes metrópoles e da urbanização acelerada que deixamos de lado o aprendizado que pode surgir das “povoações fantasmas””, afirma o autor.
Frente à complexidade da temática, a obra discute as expressões consagradas para referir-se ao tema: cidade fantasma, cidade deserta, cidade morta, vila abandonada, atrofia urbana, decadência urbana, urbicídio, ruínas modernas, urban decline, entre outras. Para todas comparece um descontentamento com a imprecisão das denominações. Por isso mesmo, o autor adota a expressão “povoações abandonadas” no título do livro.
Por povoação abandonada entende um conjunto de edificações que outrora foi um lugar com moradias, escola, igreja e atividades comerciais, tendo sido arraial, vila ou cidade, e que, na atualidade, encontra-se em ruínas (ou não), desabitado ou com pouquíssimas pessoas residindo.
Povoações abandonadas podem estar vazias de gente, mas não de História. Se agora repousam teimosamente, resistindo ao poder transformador do tempo, muitas delas em processo de degradação física, último estágio para a volta à Natureza, um dia elas conheceram a energia e a força da ação do homem e a vitalidade da vida urbana.
Limitado às ocorrências brasileiras, a partir do século XIX, o livro reconstrói a trajetória histórica de oito povoações brasileiras, seis delas em ruínas: Airão Velho (Amazonas), Fordlândia (Pará), Ouro Fino (Goiás), Biribiri e Desemboque (Minas Gerais), Bom Jesus do Pontal (Tocantins), Cococi (Ceará) e Ararapira (Paraná). Mostra o processo de construção das povoações, elucida aspectos do esvaziamento populacional e o abandono do lugar. “São vivências pretéritas encrustadas nos fragmentos ruinosos por meio dos processos sociais dos aglomerados urbanos, explica o autor”. Para cumprir essa tarefa, explora vários domínios do conhecimento humano como sociologia, história, geografia, urbanismo, arqueologia, economia, meio ambiente e arte.
Em 325 páginas, dezenas de fotos e mapas, o autor refuta todas as teorias que tentam explicar a construção e abandono das povoações, em especial o declínio urbano (urban decline), largamente utilizado por intelectuais de língua inglesa. Conclui que não há uma teoria que dê conta do fenômeno. Deixando as conclusões para o leitor, Razente coloca nas entrelinhas que a modernidade e pós-modernidade não foram construídas somente com a urbanização intensiva. Os vários exemplos estudados corroboram com tal afirmação.
Biribiri – Foto Marcelo Lessa.