Curitiba 325 anos, a metrópole em constante planejamento
28 de março de 2018 |
Ronaldo Duschenes
Curitiba comemora neste 29 de março seus 325 anos. Atualmente é uma cidade que reúne um patrimônio histórico mesclado com o moderno, com uma estimativa de 1,9 milhão de habitantes (IBGE-2017), praticamente o triplo dos anos 1970, quando experimentou intervenções que a prepararam para a metrópole, ainda menina, que se tornou.
Das novidades apresentadas na década de setenta, podemos destacar algumas que perduram e tiveram papel importante no planejamento urbano e, por serem inovadoras, funcionam até mesmo como marcos icônicos da cidade. O destacamento de um setor para abrigar a Cidade Industrial (1973), por exemplo, em lugar próprio e afastado do centro, substituindo o antigo Distrito Industrial do Rebouças, deu a Curitiba a garantia de seu desenvolvimento e abriu espaços para novas empresas. Isso ocorreu em momento crucial da história paranaense, que apontava o surgimento de uma grave crise sócio-econômica em função das geadas nas lavouras de café (1975), no Setentrião, e que mobilizou levas de trabalhadores e suas famílias para as franjas urbanas das grandes cidades, no Paraná e fora dele.
Outras visões de futuro também advêm desta época. A primeira foi o inédito fechamento da parte central da Rua XV à circulação de automóveis, privilegiando o pedestre. A segunda, que decorre da opção do Plano Diretor por um modelo linear de circulação e não mais do radial, foi a criação de canaletas exclusivas para os ônibus, prevendo a verticalização predial no entorno das vias estruturais. Com o tempo, essas duas medidas dos planejadores da cidade se demonstraram corretas, embora o transporte coletivo já apresente hoje sinais de saturação em seu modelo, forçando os gestores urbanos a ampliarem a malha existente e a buscarem novas alternativas para seu aperfeiçoamento, tais como o metrô.
Em paralelo a tudo isso, devemos destacar, ainda, como marco urbanístico inovador, a criação dos parques da cidade. Inicialmente projetados como equipamentos para contenção de enchentes, eles acabaram por dar um caráter ecológico à cidade, além de se transformarem em centros de lazer da população. Vale mencionar, também, que a interligação dos parques curitibanos possibilitou, como complemento, o surgimento das primeiras vias de ciclomobilidade.
Caso nos perguntem se a cidade tem problemas, é claro que responderemos que sim, pois ela se faz viva e cresce, sempre exigindo melhorias e aperfeiçoamentos. E aqui é que entra o trabalho dos arquitetos e urbanistas, nas avaliações e estudos diuturnos dos problemas atuais e seus reflexos no futuro. O importante disso tudo é que não faltam profissionais para dar respostas ao que nossa cidade exige. Curitiba é hoje referência na formação de arquitetos e urbanistas, com suas escolas de alto padrão de qualidade de ensino e pesquisa.
Esses são apenas alguns pontos que desejávamos destacar nesta breve análise sobre Curitiba. Com certeza, todavia, podemos afirmar que o melhor da capital paranaense é seu o povo, o cidadão que a construiu e constrói diariamente. É gente que já compreende a cidade como um grande espaço de convivência, em que construções e equipamentos públicos estão a serviço do homem e não o contrário.
Enfim, Curitiba é antes de tudo sua gente. Por isso, dar parabéns à cidade é festejar seu povo. São cidadãos que esperam dos planejadores urbanos, arquitetos e urbanistas, não somente a técnica, mas a sensibilidade que sempre tiveram ao considerá-los como elementos centrais de qualquer projeto.
Ronaldo Duschenes é Arquiteto e Urbanista e Presidente do CAU/PR